A Guerra da Ucrânia chega à sua 172ª semana com uma escalada crescente na violência e escopo dos combates nesta segunda (9).
Moscou lançou o maior ataque aéreo do conflito, com foco em uma base aérea próxima da Polônia conhecida por abrigar caças F-16. Em terra, confirmou ter invadido em uma nova região ucraniana e acelerado a pressão em outra, ambas fora da lista oficial de desejos de Vladimir Putin.
Já Kiev também aumentou a pressão de sua guerra assimétrica, atacando com drones de longa distância um das mais importantes fábrica de componentes eletrônicos militares dos rivais, além de uma outra base aérea —onde disse ter destruído dois caças, algo que a Rússia nega.
A ação aérea de Putin foi mais uma etapa na vingança contra o mega-ataque ucraniano contra a frota de bombardeiros estratégicos russos, ocorrido no domingo retrasado (1º). Foram empregados 499 drones e mísseis, ultrapassando o recorde de 472 registrado há duas semanas.
Os ucranianos disseram ter derrubado 460 drones e 19 mísseis, incluindo 4 modelos hipersônicos Kinjal.
Segundo blogueiros militares do país, o estrago parece ter sido grande no alvo principal divulgado pelo Ministério da Defesa russo, a base aérea de Dubno, a cerca de 150 km da Polônia. Varsóvia mobilizou caças para abater eventuais mísseis que entrassem em seu espaço aéreo, mas isso não ocorreu.
Dubno é uma das principais bases no oeste da Ucrânia, distante da linha de frente. Por sua localização, acredita-se que os caças americanos F-16 doados a Kiev sejam baseados lá. Nenhum dos lados falou em estimativa de danos.
No fim de semana, os russos haviam dado continuidade à retaliação atacando grandes cidades da Ucrânia, particularmente Kharkiv (norte), a segunda mais populosa do país. A capital, Kiev, também foi alvejada. Agora, o foco foi mais militar, embora drones tenham atingido cidades também, como Zaporíjia, capital da região homônima ainda sob controle de Kiev.
Os desenvolvimentos em solo são ainda mais relevantes. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, admitiu pela primeira vez que os russos entraram na região de Dnipropetrovsk, no centro do país. A movimentação por lá já era clara no fim de semana.
Segundo Peskov, o objetivo russo é criar uma zona tampão junto à fronteira de Donetsk (leste) e Zaporíjia (sul), ambas regiões que Putin anexou ilegalmente em 2022 e cujo controle total, ao lado de Kherson (sul) e Lugansk (leste), é uma de suas condições para acabar a guerra.
Nem Dnipropetrovsk, região rica em minerais estratégicos, nem Sumi (norte), que também está sob ataque, fazem parte do cardápio de demandas do Kremlin, levando a especulações sobre os desígnios de Putin.
Tudo indica que as ações já são o começo da esperada ofensiva de verão de Putin, estação que começa no fim deste mês no Hemisfério Norte e favorece atividade militar. Observadores políticos em Moscou temem que não haja condições militares para grande ganhos, mas por ora o Kremlin parece novamente numa fase autoconfiante.
Em Sumi, os russo se aproximam da capital regional homônima. Na invasão de 2022, forças russas chegaram a ocupar parte da província, mas nunca a cidade principal, e foram expulsas no fim daquele ano.
No domingo (8), com o aumento da boataria de que haveria uma evacuação da capital, o governador regional Oleh Hrihorov foi às redes sociais para dizer que a situação “é tensa, mas sob controle”. Ele já havia determinado a retirada de civis do norte da região, que está em mãos russas.
Segundo o site ucraniano de monitoramento DeepState, as forças de Putin estão a cerca de 15 km do centro de Sumi, que tem mais de 250 mil habitantes. Nesta guerra, contudo, os russos só conseguiram ocupar uma cidade de grande porte, a capital homônima de Kherson, mas recuaram devido à grande exposição dela a contra-ataques.
Já Kiev manteve sua rotina de ataques mais duros com drones de longa distância. Dois deles atingiram a fábrica da VNIIR, uma grande produtora de componentes eletrônicos, que fica na Tchuváchia, 1.000 km a leste da fronteira da Ucrânia.
Não houve vítimas, segundo o govenador Oleg Nikolaiev disse no Telegram, mas a produção foi temporariamente suspensa. Vídeos em redes sociais mostravam chamas no local e bombeiros em ação.
Os ucranianos também atacaram a base aérea de Savasleika, a quase 900 km da Ucrânia, de onde costumam decolar caças MiG-31K armados com os hipersônicos Kinjal. Novamente, vídeos mostraram fumaça no local, e Kiev disse ter destruído uma dessas aeronaves e um avião da família Sukhoi, modelo de caça 30 ou de ataque 34.
Segundo analistas militares russos, a informação é falsa, e não houve perda de aviões. No mega-ataque com drones contrabandeados escondidos em cargas falsas de caminhões da semana passada, Kiev disse ter atingido 41 aeronaves, mas estimativas russas e ocidentais falam em cerca de 10.
A violência das ações vem crescendo, enquanto ambos os lados tentam negociar sob os auspícios da pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A troca de prisioneiros acertada no encontro da segunda passada (2) em Istambul, começou nesta segunda após protelação no fim de semana.
Segundo a Defesa russa, serão trocados presos com 25 anos ou menos e feridos. A expectativa é de que sejam libertados mil prisioneiros de cada lado, e talvez 6.000 corpos de militares mortos em combate, também de ambas as forças.