O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu nesta terça-feira (23) a 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, reafirmando a posição do Brasil como defensor da democracia, da soberania nacional e do multilateralismo.
Como já é tradição desde 1947, o Brasil foi o primeiro país a discursar. Lula falou diante de líderes de 193 países-membros e reforçou mensagens políticas que dialogam tanto com a conjuntura interna brasileira quanto com os grandes temas internacionais.
Recados a Donald Trump e defesa da soberania brasileira
Logo no início da fala, Lula fez referência indireta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao criticar sanções unilaterais e tarifas impostas ao Brasil. Segundo ele, medidas arbitrárias contra instituições e a economia brasileira são “inaceitáveis” e configuram ingerência em assuntos internos. O petista classificou como inadmissível qualquer tentativa de enfraquecer o Supremo Tribunal Federal (STF), que recentemente condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.“Não há pacificação com impunidade. O Brasil deu um recado ao mundo: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, disse Lula, em tom de recado tanto a Trump quanto a setores da extrema-direita aliados ao ex-presidente brasileiro.
Mensagem ao mundo com a condenação de Bolsonaro
O presidente destacou o julgamento histórico de Bolsonaro, ocorrido no início de setembro, como um marco simbólico para o Brasil e para a comunidade internacional.“Diante dos olhos do mundo, o Brasil mostrou que não há espaço para autocratas. Pela primeira vez em nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra a democracia”, ressaltou.
Críticas a Israel e defesa do Estado Palestino
Lula também abordou o conflito em Gaza, condenando o grupo Hamas pelos atentados de 2023, mas classificando como genocídio a resposta israelense.“Nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza”, afirmou.O petista lamentou a ausência do presidente palestino Mahmoud Abbas, impedido de comparecer após os EUA revogarem vistos de representantes da Autoridade Palestina, e defendeu a solução de dois Estados como único caminho para a paz duradoura no Oriente Médio.
Multilateralismo e reforma da ONU
Reforçando sua defesa histórica do multilateralismo, Lula pediu que a ONU seja reformada para refletir o equilíbrio atual do mundo.“A voz do Sul Global deve ser respeitada e ouvida. Nossa missão histórica é tornar a ONU novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável e da diversidade”, afirmou.
Crise climática e convite à COP30
Lula dedicou parte de sua fala ao tema ambiental, chamando atenção para o recorde de temperaturas em 2024 e alertando que “bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática”. Ele reforçou o convite para que líderes mundiais participem da COP30, em Belém (PA), em 2025, classificando o encontro como a “COP da verdade”. O objetivo será cobrar compromissos concretos de países ricos para financiamento da preservação da Amazônia e da transição energética.Regulação das redes sociais
Outro ponto central foi a defesa da regulação das plataformas digitais. Lula afirmou que regular não significa restringir liberdade de expressão, mas sim garantir que crimes cometidos no ambiente virtual tenham o mesmo tratamento legal que no mundo físico.“Ataques à regulação servem para encobrir interesses escusos e dar guarida a crimes como pedofilia, tráfico de pessoas, fraudes e ataques à democracia”, alertou.
Paz na Ucrânia, diálogo na Venezuela e críticas ao isolamento de Cuba
No campo geopolítico, Lula defendeu negociações entre Rússia e Ucrânia, reiterando que não haverá solução militar para o conflito. Ele também defendeu o diálogo político na Venezuela e criticou a inclusão de Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo elaborada pelos EUA.Conclusão
O discurso de Lula foi um dos mais fortes desde sua volta ao Palácio do Planalto, combinando afirmação da soberania nacional, defesa da democracia e pauta progressista internacional. Com recados diretos a Trump e críticas contundentes a Israel, Lula buscou posicionar o Brasil como um ator global respeitado, defensor dos direitos humanos, da justiça climática e da paz.
Faça seu comentário

