A sueca Greta Thunberg, o brasileiro Thiago Ávila e outros dez ativistas estão no quarto dia de viagem a bordo do veleiro Madleen, que partiu da Itália rumo à Faixa de Gaza. O objetivo é furar o cerco de Israel e entregar alimentos e remédios a moradores, diante da crise humanitária na região.
“O plano é chegar a Gaza, descarregar os suprimentos com o apoio do nosso barco de resgate, distribuí-los e seguir denunciando o que está acontecendo. Temos uma equipe médica que poderá prestar atendimento. Depois disso, voltamos para buscar mais ajuda. Nosso papel é abrir um corredor humanitário dos povos. Uma vez aberto, retornaremos com mais coisas”, afirmou Ávila, 38, à Folha.
Poucos minutos depois de Ávila falar com a reportagem, ele publicou um vídeo no Instagram no qual disse que um drone havia sobrevoado a embarcação. Na tarde desta quarta (4), o Madleen navegava pelo sul da Grécia, após ter saído da Sicília. A previsão é que chegue ao litoral de Gaza até sábado (7).
“Estamos bem preparados, bem cientes dos riscos, conscientes de como agir em situações de emergência, crise ou ataque, para preservar tanto quanto possível a vida, a integridade física e a liberdade de todos. Fazemos isso de forma a garantir que a missão continue sendo não violenta em qualquer circunstância”, disse o brasileiro.
Em 2 de março, Israel bloqueou a entrada de alimentos e medicamentos para os 2,3 milhões de residentes em Gaza. Após uma suspensão total da ajuda humanitária por 78 dias, o governo de Binyamin Netanyahu flexibilizou a entrada de ajuda diante da crescente pressão internacional.
A retomada caótica da distribuição de ajuda humanitária tem sido realizada por meio da controversa Fundação Humanitária de Gaza (FHG), apoiada por Israel e pelos EUA. O volume, porém, é considerado insuficiente por organizações como a ONU e a Cruz Vermelha. Nesta terça-feira (3), pelo menos 27 pessoas morreram após soldados do Exército de Israel abrirem fogo perto de um local de distribuição de ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza, de acordo com a Cruz Vermelha. Tel Aviv falou em “tiros de advertência”. Nesta quarta-feira (4) a distribuição de auxílio foi paralisada.
Na missão anterior da chamada Flotilha da Liberdade, o barco Conscience foi alvo de um ataque de dois drones na madrugada de 1º de maio. Os danos provocados forçaram o seu retorno. Era uma embarcação maior, com 80 pessoas de mais de 20 países. O Madleen é mais modesto: leva 12 pessoas de 7 nacionalidades diferentes, e Thiago é o único não europeu.
Em abril de 2024, três relatores especiais da ONU — Francesca Albanese (situação dos direitos humanos nos Territórios Palestinos Ocupados), Michael Fakhri (direito à alimentação) e Balakrishnan Rajagopal (direito à moradia adequada) — exigiram passagem segura para a Flotilha da Liberdade. Eles afirmaram que Israel deve cumprir o direito internacional e as ordens da Corte Internacional de Justiça, permitindo a entrada irrestrita de ajuda humanitária em Gaza.
O governo espanhol, por meio do ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, condenou o ataque ao Conscience e exigiu que os responsáveis fossem responsabilizados.
Em uma declaração feita no final de fevereiro, o ministro da Defesa Israel Katz instruiu o Exército de Israel a permitir que as flotilhas de protesto chegassem à costa de Gaza, desembarcassem os manifestantes e, em seguida, apreendessem os navios para utilizá-los para evacuar palestinos.
A iniciativa da flotilha existe desde 2008. Em 2010, um grupo de sete embarcações foi atacado por Israel, matando 9 pessoas e ferindo 50.