O presidente Vladimir Putin buscou apoio no Brics nesta sexta (8), dia em que expira o prazo dado por Donald Trump para que o russo aceite uma trégua na Guerra da Ucrânia —sob pena de enfrentar novas sanções que afetarão principalmente os parceiros do grupo.
Putin ligou para o líder chinês Xi Jinping e para o premiê indiano, Narendra Modi, relatando a conversa que teve com o enviado de Trump sobre a guerra e a cúpula que fará com o americano na semana que vem, provavelmente nos Emirados Árabes Unidos.
Recebeu elogios de Xi pela reaproximação com os EUA e renovação de votos de aliança estratégica de Modi. A China comprou, de dezembro de 2022 até junho, 47% do petróleo russo, e a Índia, 38%. Com isso, os países mantiveram uma linha de oxigênio para a economia sob sanções de Moscou.
Ainda não se sabe os termos exatos discutidos pelo russo e o negociador Steve Witkoff na quarta (6), mas a Folha ouviu especulações diversas em Moscou.
A mais frequente é de que Putin ofereceu uma trégua na guerra aérea, cuja violência explodiu de lado a lado neste ano, levando o nível de destruição do conflito a patamares inéditos desde a invasão russa de 2022. Questões acerca da exigência do Kremlin de neutralidade militar ucraniana também surgiram.
Já a agência Bloomberg diz que Putin ofereceu congelar parcialmente as linhas de batalha nas regiões sulistas de Kherson e Zaporíjia, que anexou mas onde o controle russo é de cerca de 75% do território.
Certeza, só que a conversa resultou no anúncio do primeiro encontro entre presidentes das duas maiores potências nucleares do planeta desde 2021. Mas isso não afastou o fantasma das novas sanções, que segundo o Departamento de Estado ainda estão sendo discutidas.
Neste momento a guerra comercial das tarifas de Trump se choca com os esforços do americano em tentar se promover como pacificador da guerra que havia prometido acabar em 24 horas no cargo.
O presidente americano tomou a Índia como exemplo, e adicionou 25 pontos percentuais aos 25% de tarifas de importação que já havia determinado contra produtos do país asiático. O motivo? A compra do petróleo russo.
Com a China o jogo é outro, dada a interdependência com a economia americana, e as negociações tarifárias seguem. Diferentemente da Índia, que apesar da parceria econômica e da compra de equipamento militar russo é crítica da invasão da Ucrânia, Pequim não condenou a guerra.
Por ora, não sabe onde o Brasil entrará. Um dos sócios fundadores do Brics, o país está sob intenso ataque de Trump, tendo recebido 50% de sobretaxa —maior número do mundo sem “adicionais”, como no caso indiano, que se equivale ao fim ao brasileiro.
O motivo contra o governo Lula (PT) é também político, no caso a defesa da anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está em prisão domiciliar e será julgado no mês sob acusação de envolvimento na trama golpista de 2022.
O Brasil comprou, de 2022 até aqui, 12% do óleo diesel vendido por Moscou. Se Trump for em frente com as sanções secundárias, provavelmente isso afetará quem compra derivados de petróleo também, mas é incerto se impactará países que dependem de fertilizantes russos —caso do Brasil, onde 31% do mercado é do produto de Putin.
Em relação à Ucrânia, o Brasil condenou a invasão, mas também as sanções, mantendo assim boas relações e comércio. Lula chegou até a juntar-se a Xi e outros líderes autoritários nas celebrações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial, em maio.
Putin ainda procurou seu aliado mais próximo, na prática um vassalo político, o ditador Aleksandr Lukachenko, de Belarus. Segundo o Kremlin, ele também foi informado acerca dos termos da conversa com Witkoff, além de outros itens da pauta bilateral.
A vizinha é vital no esforço de guerra russo, permitindo o uso de seu solo e espaço aéreo para ataques contra a Ucrânia. Além disso, Putin posicionou armas nucleares táticas, de uso supostamente restrito ao campo de batalha, no país, que faz fronteira com três nações da aliança militar ocidental Otan.