Um estudo publicado na revista científica Nature Medicine reforça o que muitos profissionais da saúde já alertavam há algum tempo: o processamento de alimentos tem impacto direto na perda de peso.
Segundo os cientistas da University College London (UCL), no Reino Unido, quem se alimenta com comida de verdade (ou seja, alimentos minimamente processados) perde o dobro de peso em comparação com quem consome versões ultraprocessadas, mesmo quando ambos seguem uma dieta considerada “nutricionalmente adequada”.
Dieta saudável não é só sobre nutrientes
Um dos grandes destaques da pesquisa é que todos os participantes receberam refeições que seguiam as orientações do “Guia Eatwell”, referência oficial do governo britânico para uma alimentação balanceada.
Isso significa que tanto quem comeu alimentos ultraprocessados quanto quem recebeu pratos minimamente processados estava ingerindo quantidades equilibradas de carboidratos, proteínas, gorduras, fibras, sal e outros nutrientes essenciais.
Mesmo assim, a diferença nos resultados foi clara: os que comeram alimentos minimamente processados (como aveia, arroz integral e pratos preparados em casa) perderam, em média, o dobro de peso em oito semanas.
Já os que seguiram a dieta rica em ultraprocessados (como barrinhas, lasanhas congeladas e refeições prontas) também emagreceram, mas bem menos.
Ou seja, não é só o “que” você come que importa, mas o quanto o processamento de alimentos pode influenciar nos resultados.
O que são alimentos minimamente processados e ultraprocessados?
Para entender melhor a relação entre o processamento de alimentos e seus efeitos no emagrecimento, é importante saber a diferença entre os dois grupos:
- Alimentos minimamente processados: são os mais próximos do seu estado natural. Exemplos: frutas, legumes, grãos, ovos, carnes frescas, arroz integral, feijão, aveia, castanhas. Eles podem passar por algum tipo de limpeza, refrigeração ou cozimento, mas sem adição de substâncias artificiais.
- Alimentos ultraprocessados: são aqueles que passam por várias etapas industriais e recebem ingredientes como corantes, aromatizantes, conservantes e realçadores de sabor. São formulados para durar mais e ter gosto mais agradável, mas costumam conter excesso de gordura, sal, açúcar e aditivos. Exemplos: refrigerantes, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, nuggets, bolos prontos e comidas congeladas.
Comer comida de verdade ajuda até a controlar a fome
Durante o estudo, os participantes não foram orientados a comer menos; eles podiam comer o quanto quisessem.
Ainda assim, o grupo que consumiu alimentos minimamente processados acabou ingerindo, em média, 290 calorias a menos por dia. Já o grupo dos ultraprocessados consumiu cerca de 120 calorias a menos por dia.
Mesmo com comida à vontade, quem se alimentou melhor naturalmente comeu menos.
Outro ponto interessante foi a relação com os desejos alimentares.
Os participantes relataram sentir menos vontade de comer besteiras durante a dieta com alimentos minimamente processados.
Ou seja, além de emagrecer mais, essas pessoas também passaram a ter mais controle sobre os impulsos alimentares.
Segundo os pesquisadores, o corpo parece “se autorregular” melhor quando recebe comida de verdade, o que pode explicar a menor ingestão calórica mesmo sem restrições.
Mais uma vez, os dados mostram como o nível de processamento dos alimentos interfere na resposta do organismo.
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Diferença real na balança e na saúde do corpo
Ao final de cada dieta de oito semanas, os dois grupos perderam peso. Porém, quem seguiu a alimentação com alimentos minimamente processados teve uma perda de 2,06% do peso corporal, enquanto os que seguiram a dieta com ultraprocessados perderam apenas 1,05%.
Mais do que o número na balança, a perda de peso com a dieta minimamente processada foi mais saudável: ela veio da redução da gordura corporal e da água retida no corpo, sem afetar a massa muscular.
Ou seja, além de emagrecer mais, as pessoas melhoraram a composição corporal.
Esses dados mostram que a ligação entre o grau de processamento de alimentos e a perda de peso vai além dos rótulos e das calorias.
Trata-se de uma mudança no funcionamento do corpo (e dos hábitos alimentares) que pode fazer diferença a longo prazo.
E os exames de sangue, colesterol e pressão?
O estudo também acompanhou indicadores importantes de saúde, como colesterol, glicose, pressão arterial e função do fígado.
Em geral, não houve piora significativa em quem consumiu alimentos ultraprocessados durante o experimento, o que pode ser explicado pelo fato de que, mesmo ultraprocessados, os alimentos eram equilibrados do ponto de vista nutricional.
Mas isso não significa que está tudo bem.
Os próprios cientistas reforçam que, em estudos mais longos, os efeitos negativos dos ultraprocessados provavelmente seriam mais evidentes.
Afinal, o consumo contínuo desse tipo de alimento já foi ligado, em outras pesquisas, a problemas como obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Comer melhor é mais simples do que parece
Uma das mensagens mais fortes do estudo é que não se trata apenas de força de vontade.
O ambiente em que vivemos, com excesso de propagandas, produtos prontos e preços acessíveis para alimentos ultraprocessados, dificulta a escolha por opções saudáveis.
Por isso, os especialistas defendem que governos e empresas também tenham responsabilidade.
Políticas públicas, rótulos mais claros, restrições à publicidade infantil, impostos sobre ultraprocessados e incentivo à comida de verdade podem ajudar a mudar esse cenário.
E você, que está tentando se alimentar melhor, não precisa complicar: prefira alimentos simples, naturais e preparados em casa sempre que possível.
Pequenas trocas — como trocar bolacha recheada por frutas, ou refrigerante por água com limão — já podem fazer diferença.
Afinal, como mostra esse estudo, o processamento de alimentos tem impacto real na saúde e na perda de peso, e suas escolhas diárias fazem toda a diferença.
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