Uma pesquisa divulgada recentemente está abrindo caminho para aquilo que por muito tempo foi considerado impossível: a cura da diabetes tipo 1.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de Toronto em parceria com a empresa Vertex Pharmaceuticals, nos Estados Unidos, testou um tratamento inovador com células-tronco em pessoas com a forma mais grave da doença.
Os resultados são animadores e indicam uma nova perspectiva de vida para milhões de pacientes no mundo.
Um passo inédito rumo à cura da diabetes tipo 1
Doze pessoas com diabetes tipo 1 em estágio avançado participaram de um estudo clínico para testar um tratamento chamado zimislecel, que consiste na infusão de células-tronco modificadas para se tornarem células produtoras de insulina.
A terapia também incluiu o uso de medicamentos imunossupressores para evitar que o sistema imunológico atacasse essas novas células.
Os resultados após 12 meses foram bastante positivos: 10 dos 12 participantes conseguiram interromper totalmente o uso de insulina.
Os outros dois também apresentaram melhorias significativas no controle da glicose.
As células implantadas foram capazes de produzir insulina em níveis considerados seguros e eficazes, algo que, até então, só era possível com transplantes de pâncreas ou ilhotas pancreáticas de doadores.
Por que esse tratamento é tão importante?
A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, ou seja, o próprio sistema imunológico do corpo ataca as células saudáveis que produzem insulina.
Sem esse hormônio, o organismo não consegue controlar adequadamente os níveis de açúcar no sangue.
O tratamento tradicional exige aplicações diárias de insulina, dieta controlada e monitoramento constante da glicemia.
Mesmo com todos os cuidados, os pacientes correm riscos graves, como:
- Hipoglicemia: quando a insulina é administrada em excesso, causando queda perigosa nos níveis de açúcar no sangue;
- Hiperglicemia: quando falta insulina, elevando demais a glicose no sangue;
- Danos em órgãos vitais, como rins, coração e nervos;
- Cegueira, devido a complicações nos vasos sanguíneos dos olhos;
- Maior propensão a infecções, inclusive de pele, boca e trato urinário.
Além disso, a doença pode comprometer a qualidade de vida e trazer limitações significativas.
Por isso, a possibilidade real de uma cura da diabetes tipo 1, mesmo que ainda em fase experimental, é motivo de esperança para os mais de 8 milhões de pacientes que convivem com essa condição crônica em todo o mundo.
Como funciona a terapia com zimislecel
O zimislecel é um tipo de terapia celular que utiliza células-tronco pluripotentes humanas, que foram induzidas a se transformar em células das ilhotas pancreáticas (as mesmas que produzem insulina em um organismo saudável).
Essas células foram infundidas diretamente nos pacientes.
Antes da infusão, os pacientes receberam imunossupressores para reduzir a resposta imunológica contra as novas células.
Isso é necessário porque, na diabetes tipo 1, o sistema imune normalmente destrói as células produtoras de insulina, por confundi-las com ameaças.
Após a terapia, os pesquisadores acompanharam os participantes ao longo de um ano.
A maioria demonstrou produção sustentada de insulina, com autorregulação adequada.
Ou seja, o organismo passou a produzir insulina de forma natural, de acordo com a necessidade.
Riscos e efeitos colaterais observados
Como em qualquer procedimento médico inovador, também foram registrados efeitos adversos.
Dois participantes infelizmente faleceram durante o estudo, um em decorrência de complicações cirúrgicas e outro por causas não relacionadas ao tratamento.
Também foram relatados efeitos colaterais moderados, como queda na função renal e redução das células imunológicas, atribuídos ao uso dos imunossupressores.
Apesar disso, os cientistas consideraram a terapia segura, já que nenhum dos eventos graves foi diretamente causado pelo zimislecel.
Com isso, o estudo avança agora para a fase 3 dos ensaios clínicos, etapa em que um número maior de participantes será testado.
Entendendo a diabetes tipo 1
A diabetes tipo 1 é uma doença crônica na qual o pâncreas deixa de produzir insulina ou a produz em quantidade insuficiente.
A insulina é essencial para que o açúcar (glicose) presente no sangue entre nas células e seja utilizado como fonte de energia.
Sem insulina, a glicose se acumula no sangue, o que pode levar a uma série de complicações graves a curto e longo prazo.
A doença pode surgir em qualquer idade, mas é mais comum na infância ou adolescência.
Por isso, durante muito tempo foi chamada de “diabetes juvenil”.
Principais sintomas da doença
- Sede intensa;
- Urina frequente;
- Fome exagerada;
- Emagrecimento rápido e sem causa aparente;
- Cansaço e fraqueza;
- Mudanças de humor;
- Visão turva;
- Enurese noturna (xixi na cama em crianças que já tinham parado).
Se você ou seu filho apresenta esses sintomas, procure orientação médica.
O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações.
Causas e fatores de risco
Ainda não se sabe exatamente por que a diabetes tipo 1 acontece.
A principal hipótese é de que haja uma combinação de predisposição genética com fatores ambientais, como a exposição a vírus.
O sistema imunológico acaba atacando por engano as células do próprio corpo.
Os principais fatores de risco são:
- Histórico familiar (pais ou irmãos com a doença);
- Genética (presença de certos genes);
- Idade (mais comum entre 4-7 anos e 10-14 anos);
- Região geográfica (a incidência tende a ser maior em países localizados em latitudes mais altas, como Canadá, Finlândia e Suécia, mais distantes da linha do
- Equador).
Complicações possíveis da diabetes tipo 1
Quando não controlada, a diabetes tipo 1 pode causar danos em vários órgãos:
- Coração e vasos sanguíneos: maior risco de infartos, AVC e pressão alta;
- Nervos: formigamento, dor e perda de sensibilidade, principalmente nos pés;
- Rins: risco de insuficiência renal;
- Olhos: retinopatia diabética e cegueira;
- Pés: infecções graves e risco de amputacão;
- Boca e pele: maior propensão a infecções;
- Gravidez: riscos tanto para o bebê quanto para a mãe.
Controle e tratamento atuais
O tratamento inclui:
- Aplicação de insulina diariamente (várias vezes ao dia);
- Alimentação balanceada;
- Atividade física regular;
- Monitoramento constante da glicemia.
Mesmo com todos esses cuidados, muitas vezes é difícil manter os níveis de glicose estáveis, o que aumenta o risco de complicações.
Uma mudança de paradigma na medicina
O estudo da equipe de Trevor Reichman pode representar um passo importante na medicina.
Pela primeira vez, um grupo de pacientes com diabetes tipo 1 grave conseguiu voltar a produzir insulina de forma natural e segura, sem depender de injeções diárias.
Ainda serão necessários mais estudos, com um número maior de participantes e acompanhamento a longo prazo.
Mas a possibilidade de uma cura da diabetes tipo 1, antes vista como distante, se torna cada vez mais real.
A esperança é que, com os avanços da ciência e da biotecnologia, essa realidade esteja ao alcance de milhões de pessoas que vivem com a doença.
O futuro pode estar mais próximo do que imaginamos.
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