Duas linhas estatísticas avançam em contramão desde os anos 1990 nos Estados Unidos. Não importa se os índices de crime baixam, dois terços dos americanos continuam expressando medo de ser vítimas de furtos ou violência.
Nas três últimas décadas, as pesquisas anuais do instituto Gallup têm registrado uma média de 60% dos americanos afirmando que há mais crimes do que no ano anterior. Estudos mostram que sinais de desordem urbana pesam na sensação de insegurança, como lixo nas ruas ou fachadas dilapidadas, e especialmente o aumento da população em situação de rua.
Essa percepção da realidade é invariavelmente explorada à exaustão por políticos e é peça de campanha obrigatória para candidatos a prefeito, já que os departamentos de polícia operam sob controle municipal nos EUA. A única exceção é quando um prefeito está em campanha de reeleição, como é o caso do judicialmente alquebrado democrata Eric Adams, cuja chance de se reeleger em Nova York, em novembro, é quase a mesma de esta colunista sair em turnê com uma banda punk.
Volta e meia, Adams, que foi capitão da polícia e se elegeu em meio à rara alta de violência registrada durante a pandemia, promove entrevistas coletivas para mostrar como seu governo tornou a cidade mais segura. E, todo dia, seus opositores em campanha se esforçam para provar o contrário.
Os políticos contam com ajuda generosa da mídia, especialmente rádios, TVs e tabloides locais, cuja cobertura de segurança é sempre intensa. Muito antes da era digital e do jornalismo caça-cliques, o popular ditado nas redações locais era “if it bleed, it leads” (se sangra, dá manchete).
Nova York é a vitrine da segurança pública nos EUA desde os anos 1970, quando a cidade estava a ponto de falir e a epidemia de cocaína, seguida de crack, disparou. A transformação de Nova York em metrópole mais segura do continente, no começo do milênio, foi observada por uma romaria de profissionais estrangeiros que vinham conhecer um novo sistema baseado no monitoramento individual de delegacias.
Um destaque era o foco em combater pequenas contravenções não violentas que afetam a qualidade da vida numa área de grande densidade demográfica.
Em 2025, no entanto, os adversários políticos do prefeito Adams podem encontrar alguma munição em relatórios de segurança. O número de homicídios continua baixo –377 em 2024, nesta cidade de 8,5 milhões de habitantes, uma estatística confiável, já que homicídios sempre são registrados. Mas outros tipos de crimes violentos, não necessariamente comunicados a policiais, estão em alta em relação ao período pré-pandemia, principalmente agressões físicas e assaltos.
É difícil encontrar consenso nas explicações para a queda nos homicídios. Uma delas seria o fato de que a rotina da cidade, que foi o primeiro foco explosivo de casos de Covid, até hoje não voltou ao normal.
Já outra especulação feita por especialistas sobre os sucessos na segurança de Nova York tem o potencial de fazer políticos demagogos enfurecidos. A cidade recebeu o maior influxo de estrangeiros sem documentos pedindo asilo nos últimos dois anos. A história mostra que imigrantes, mesmo os que entram ilegalmente, cometem menos crimes do que os nativos.
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