Em meio ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e aliados no Supremo Tribunal Federal (STF), o governo Donald Trump intensificou a retórica contra o Brasil. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou nesta terça-feira (9) que os Estados Unidos não hesitarão em usar tanto o “poder econômico” quanto o “poder militar” para garantir a liberdade de expressão no mundo.
A afirmação foi feita em coletiva, ao responder sobre novas medidas contra o Brasil e países europeus acusados de “censura”. Leavitt afirmou que Trump levou a pauta para o centro de seu mandato:
“É por isso que aplicamos sanções e tarifas ao Brasil. Não há medo de usar o poder econômico ou militar dos EUA para proteger esse direito fundamental.”
Tarifas e possíveis novas medidas
A retórica é acompanhada de ações práticas. Desde agosto, Washington aplicou tarifas de até 50% a produtos brasileiros. Agora, avalia sobretaxas adicionais devido à importação de diesel russo, medida já aplicada à Índia. Também há expectativa de novas cassações de vistos após a provável condenação de Bolsonaro no STF.
Aliados do ex-presidente brasileiro esperam um endurecimento maior de Trump nos próximos dias, possivelmente após a conclusão do julgamento, prevista para sexta-feira (12).
Contexto político e diplomático
A fala da porta-voz não mencionou diretamente as acusações de golpe contra Bolsonaro, mas foi interpretada como recado ao STF. Coincidindo com a leitura do voto do ministro Alexandre de Moraes, a Embaixada dos EUA no Brasil publicou mensagem criticando “abusos de autoridade” atribuídos ao magistrado.
A postura amplia o atrito diplomático iniciado quando Trump revogou o visto de Moraes e aplicou sanções previstas na Lei Magnitsky, que prevê restrições econômicas a acusados de violações de direitos humanos.
Reações no Brasil
Especialistas reagiram com preocupação. O professor Pierpaolo Cruz Bottini, da USP, chamou de “absurda” a hipótese de pressão militar sobre um poder judiciário. Para ele, a única saída é uma mobilização diplomática para reafirmar a independência do sistema judicial brasileiro diante da comunidade internacional.
Enquanto isso, manifestações pró-Bolsonaro realizadas no domingo (7) na avenida Paulista exibiram bandeiras dos EUA, em sintonia com a narrativa de Trump de que a liberdade de expressão estaria ameaçada no Brasil.
A tensão entre Brasília e Washington se soma a um ambiente político já carregado, em que o julgamento do STF pode selar a condenação de Bolsonaro e aumentar a pressão externa sobre a democracia brasileira.

