O Brasil registrou deflação em agosto, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caindo 0,11%, segundo o IBGE. Foi o primeiro recuo em 12 meses e o mais intenso desde setembro de 2022, quando a taxa havia sido de -0,29%.
O resultado veio um pouco acima das projeções de mercado, que esperavam queda de 0,15%, conforme o boletim Focus. Em julho, o índice havia subido 0,26%. No acumulado de 2025, a inflação soma 3,15% e, em 12 meses, a alta é de 5,13%, abaixo dos 5,23% registrados até julho.
Principais fatores
A retração foi puxada por três grupos que pesam diretamente no orçamento das famílias: energia elétrica, alimentos e combustíveis. Esses itens retiraram 0,30 ponto percentual do índice geral. Sem esse efeito, o IPCA teria avançado 0,43% no mês.
A energia elétrica residencial caiu 4,21%, impactando fortemente o grupo Habitação, que recuou 0,90%, menor resultado desde o Plano Real. O alívio refletiu a aplicação do Bônus de Itaipu.
No setor de alimentação e bebidas, houve queda de 0,46%, a terceira seguida. Itens como tomate, batata, arroz, café e cebola recuaram com a melhora da oferta. Fora de casa, refeições e lanches também perderam força.
No grupo transportes, as passagens aéreas (-2,44%) e a gasolina (-0,94%) foram determinantes para a deflação. Etanol e gás veicular também recuaram, enquanto apenas o diesel teve alta leve, de 0,16%.
Grupos em alta
Entre os setores que avançaram, destacaram-se Educação (0,75%), com reajustes em mensalidades e cursos, e Saúde e cuidados pessoais, com elevação em planos e itens de higiene. Vestuário também registrou aumento.
Perspectivas e juros
Para analistas, a deflação de agosto foi pontual. Economistas avaliam que o efeito do Bônus de Itaipu será revertido em setembro. O núcleo de serviços permanece pressionado, sinalizando demanda aquecida.
Luis Otávio Leal, da G5 Partners, projeta inflação de 5% em 2025 e acredita que a queda de juros só começará em 2026. Já Claudia Moreno, do C6 Bank, estima início do ciclo de cortes em março, com a Selic caindo para 13% ao ano até o fim do próximo ano. Alexandre Maluf, da XP, prevê cortes já em janeiro, sustentando projeção de 4,8% para o IPCA de 2025.
Enquanto isso, o relatório Focus mostra que as expectativas para a inflação foram reduzidas por 14 semanas seguidas, com estimativa atual de 4,85% para o ano.
Foto: Leo Martins/Agência O Globo

