A Operação Contenção, deflagrada nesta terça-feira (28) pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, terminou com 64 mortos e 81 presos nos complexos da Penha e do Alemão, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). A ação, marcada por intenso tiroteio e bloqueio de vias, provocou críticas de pesquisadores e de organizações de direitos humanos, que classificaram o episódio como mais um capítulo da política de confronto adotada pelo estado.
Para a socióloga Carolina Grillo, coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF, a operação representa “uma violência injustificável” e repete um padrão de repressão sem resultados efetivos. “Essas prisões e apreensões não compensam o enorme custo que houve para a população”, afirmou em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
De acordo com Grillo, ações dessa natureza geram um impacto profundo no cotidiano das comunidades. “As escolas e unidades básicas de saúde deixam de funcionar, trabalhadores não conseguem sair de casa e a rotina é interrompida. O custo humano é altíssimo e o retorno é mínimo”, observou.
A pesquisadora avalia que o governo fluminense mantém uma política voltada à espetacularização da violência. “Não interessa ao governo se articular com a Polícia Federal, porque ele quer mostrar serviço de forma escandalosa, sem investimento real em inteligência e prevenção”, afirmou.
Grillo lembrou ainda que, durante a vigência da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) das Favelas, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a letalidade policial caiu quase 70% entre 2019 e 2023, sem aumento nos índices de criminalidade. “Foi a prova de que é possível combater o crime com controle do uso da força e planejamento”, ressaltou.
Para ela, o enfrentamento ao crime organizado deve passar por investigações financeiras, políticas públicas de inclusão social e fiscalização de mercados dominados por facções. “Aumentar penas ou multiplicar operações não resolve o problema. É preciso romper os elos entre o poder público e o crime, além de criar oportunidades fora da lógica da violência”, concluiu.
Com informações do Brasil de Fato.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

