Assim, ela age como um escudo protetor, dificultando o desenvolvimento das cáries. Além disso, por ser distribuída universalmente na água, alcança toda a população, especialmente aqueles com menos acesso a produtos odontológicos e serviços dentários.
O dentista Paulo Frazão, professor titular do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica que toda fonte de água contém fluoreto, mas a estratégia de ajustar a concentração se mostrou uma opção de baixo custo, alta eficácia preventiva e segura para a saúde humana.
“É a única medida conhecida de redução da desigualdade de cárie entre crianças e adolescentes de diferentes níveis de renda familiar, desde que a água tratada e fluoretada alcance bairros ricos e pobres”, afirma.
No Brasil, a fluoretação da água foi estabelecida pela lei nº 6.050, de 1974, após uma longa trajetória de estudos e reconhecimento internacional da eficácia dessa estratégia na prevenção da cárie. Com a lei federal que obrigou a adição de flúor aos sistemas públicos de abastecimento, o país viu uma queda expressiva nos índices de cárie dentária ao longo das décadas seguintes.
“As estatísticas referentes ao índice de dentes cariados, perdidos e obturados evoluíram positivamente nas últimas décadas e revelam o quão significativa é a fluoretação das águas de abastecimento público para garantia da proteção da saúde bucal dos brasileiros”, diz Claudio Miyake, presidente do CFO (Conselho Federal de Odontologia).
Em 1980, o Ministério da Saúde estimou o CPOD nacional aos 12 anos de idade —índice que avalia a média de dentes cariados, perdidos e obturados em dentes permanentes— em 7,3. O número, elevado pelos critérios da OMS, colocava o Brasil no patamar de países pobres e com alto índice de cárie. A queda foi gradual: 6,7 em 1986, 3,1 em 1996, 2,8 em 2003, 2,1 em 2010 e chegou a 1,7 em 2023, posicionando o Brasil entre os países com baixa incidência de cárie.