O jornalista palestino Anas Hawari, 28, acha que nunca mais vai querer voltar ao Rio de Janeiro. Não que ele não tenha gostado da cidade. Hawari afirma ter tido uma experiência lamentável no aeroporto do Galeão ao ser interrogado, logo após passar pela imigração, sobre suas supostas conexões com o Hamas.
Hawari, que vive em Nablus, na Cisjordânia, com a mulher e o filho, veio ao Brasil convidado para participar da GlobalFact, a conferência internacional de checadores e fatos. Ele trabalha há dez anos como jornalista e, atualmente, atua no portal de checagem de fatos palestino Tayqan.
O jornalista chegou no dia 23 de junho em um voo vindo de Dubai. Procurada, a Superintendência da Polícia Federal no Rio afirmou que iria apurar sobre o ocorrido, mas não havia retornado à reportagem. Leia o relato de Hawari a seguir.
Eu pousei no aeroporto do Galeão, no Rio Janeiro, na tarde do dia 23 de junho. Fui ao Brasil para participar da GlobalFact, a conferência internacional de checadores e fatos, que este ano se realizou no Rio.
Quando passei pela imigração no aeroporto, mostrei meu passaporte da Palestina a uma funcionária.
Ela me pediu para acompanhá-la e me levou até uma sala dentro do aeroporto. Pediu que eu esperasse.
Após alguns minutos, pediu que eu entrasse em uma outra sala. Lá havia várias pessoas. Não me disseram exatamente quem eram. E eu também não perguntei.
Um deles começou a me fazer uma série de perguntas. Ele começou pedindo informações pessoais e sobre o meu trabalho como checador de fatos.
Depois de me perguntar várias coisas, ele disse: “Agora vamos para a pergunta mais importante: qual é a sua opinião sobre a guerra entre Israel e o Hamas?”
Aí ele começou a perguntar sobre minhas ligações com o Hamas. Perguntou se eu tinha atuado com eles ou recebido treinamento militar.
Fez inúmeras perguntas sobre minha relação com o Hamas. Eu estava sorrindo, mas de incredulidade. Estava chocado. Eu respondi várias vezes que era só um jornalista e checador, só isso.
Ele pediu para eu esperar um pouco e disse que precisava tirar uma foto minha em frente a um fundo branco. Por um momento, parecia que eu era um criminoso, sendo fichado.
Eu nunca tinha passado por nada parecido.
Uma vez no Rio, minha experiência foi ótima, tirando o fato de terem tentado roubar meu celular. Disseram que isso é bem comum no Brasil. Acho que as autoridades deveriam focar isso.
Até agora, eu não entendo o motivo de me perguntarem todas aquelas coisas e de me tratarem daquele jeito.
Foi uma péssima experiência. Não quero viajar para o Brasil de novo.