Você já imaginou ter uma aula dentro de um cemitério?
Em Fortaleza, essa experiência é real. O projeto Fortaleza Necrópole, idealizado pelo professor e historiador Thiago Roque, propõe uma imersão na história da cidade por meio dos espaços da morte — e, paradoxalmente, da vida.
A iniciativa convida o público a percorrer túmulos, monumentos e histórias esquecidas, explorando o passado pela ótica da memória e das relações humanas.
“É como mergulhar num oceano de lembranças. Muitas pessoas têm medo de cemitério, mas o projeto permite que elas conheçam novas perspectivas sobre a finitude e a história”, explica Thiago Roque.
O educador lamenta que parte dos cearenses desconheça a própria história. Para ele, visitar os cemitérios é uma forma de reconectar a cidade com suas raízes.
“Não existe identidade sem memória. Quando visitamos esses lugares com olhar histórico e filosófico, resgatamos legados — positivos ou não — das pessoas que ajudaram a construir Fortaleza”, afirma.
Durante o percurso, os participantes revivem passagens marcantes, como “a noite dos mil mortos”, e refletem sobre desigualdades sociais e os contrastes entre os que repousam nos grandes mausoléus e os que descansam nas valas comuns.
O projeto surgiu no início de 2024, unindo história e filosofia em roteiros diurnos e noturnos.
A rota diurna parte do Centro de Turismo do Ceará, segue pela Estação das Artes — antigo cemitério de São Casimiro — e percorre a rua Castro e Silva, conhecida no passado como a “rota das almas”.
“Queremos que as pessoas reflitam sobre a serenidade e o sentido da vida. Falar de morte é, na verdade, falar de permanência”, completa o professor.
Nas próximas sextas-feiras (17 e 24), o público poderá participar do circuito noturno “Assombros e Memórias”, realizado no Cemitério São João Batista.
Apesar do nome, o foco não está no medo, e sim na serenidade e na recuperação da memória coletiva. Funcionários do cemitério, curiosos e amantes da história da cidade participam das atividades, compartilhando relatos e descobertas.
“Fortaleza Necrópole” é, acima de tudo, uma aula viva sobre o tempo — e sobre nós mesmos.
UMA REFLEXÃO SOBRE VIDA E MORTE
O projeto surgiu da ideia entre os idealizadores de mesclar filosofia e história através da perspectiva do cemitério, ainda no início de 2024.
Na roteirização diurna, a rota sai do Centro de Turismo do Ceará (antiga cadeia pública de Fortaleza), passando pelo Complexo da Estação das Artes (antigo cemitério de São Casimiro) e seguindo pela rua Castro e Silva, chamada de “rota das almas”, antes conhecida como “rua das flores”, por conta dos cortejos fúnebres.
“Como nossa aula tem uma perspectiva de reflexão sobre infinitude e finitude da vida, nada melhor do que uma rota pelo caminho das almas para que a gente pudesse refletir questões existenciais, sobre o conceito de serenidade, de tranquilidade e de imperturbabilidade da alma”, complementou.
Nas próximas sextas-feiras (17 e 24), Thiago, ao lado de Sandoval Matoso, também professor e historiador e realizador da iniciativa, realizam mais um “Assombros e memórias”, a rota formativa noturna, no Cemitério São João Batista.
De acordo com o educador, embora haja um foco nas lendas urbanas, um direcionamento nos mitos que perpassam Fortaleza, o principal objetivo é a “serenidade e resgate da memória”.
Já a ideia do nome busca justamente desmitificar a ideia de medo e tensão.
O público é diverso e reúne muitos interessados e curiosos na história da cidade, em lendas, mitos e mistérios da cidade.
Durante o percurso, até mesmo funcionários do cemitério participam para relatar histórias e relatos do espaço.

