O número de crianças sem vacina voltou a preocupar no Brasil. Segundo um novo levantamento da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), o país retornou à lista dos 20 países com mais crianças que não tomaram sequer a primeira dose de uma vacina fundamental para a infância.
A vacina em questão é a tríplice bacteriana (DTP), que protege contra três doenças graves: difteria, tétano e coqueluche.
Em 2024, mais de 229 mil crianças brasileiras não receberam essa dose. Isso representa cerca de 17% de todas as crianças sem vacina na América Latina e no Caribe.
Brasil aparece atrás de países com desafios estruturais
Com esse número, o Brasil agora ocupa a 17ª posição entre os países com mais crianças sem vacina.
Está atrás de países como Mianmar, Camarões e Costa do Marfim, nações que enfrentam sérios desafios sociais e estruturais, mas que conseguiram melhores índices de vacinação infantil do que o Brasil neste levantamento.
Além de expor milhares de crianças a doenças evitáveis, essa realidade coloca em risco o esforço de décadas para eliminar surtos e manter a proteção coletiva.
Quanto menos gente vacinada, maior o risco de retorno de doenças antes controladas.
Cobertura vacinal teve queda, mas começou a se recuperar
Durante os anos 2000 até 2012, o Brasil se destacou no mundo por ter uma cobertura vacinal exemplar, com quase 100% das crianças protegidas. No entanto, essa realidade mudou.
A partir de 2019, a taxa de vacinação começou a cair fortemente.
Em 2021, durante a pandemia de covid-19, apenas 68% das crianças receberam a primeira dose da DTP.
Em 2024, houve melhora, e o índice subiu para 91%, mas ainda assim milhares continuam ficando de fora das vacinas.
Apesar dos desafios, o relatório também mostra sinais positivos.
Em 2024, um milhão de crianças a mais completaram o esquema de vacinação da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) em comparação com o ano anterior.
Por que tantas crianças sem vacina?
Segundo a OMS e a Unicef, há várias razões para esse cenário preocupante. Entre elas estão:
- Dificuldade de acesso aos postos de saúde, especialmente em áreas rurais ou periféricas;
- Interrupções no fornecimento de vacinas;
- Desinformação e fake news sobre os riscos e efeitos das vacinas;
- Falta de investimentos públicos e cortes na ajuda internacional;
- Desconfiança de parte da população, alimentada por discursos antivacina.
Esses fatores combinados fazem com que pais e responsáveis deixem de levar as crianças para receber as vacinas essenciais, o que pode trazer consequências sérias para a saúde pública.
A situação no mundo também preocupa
O problema não é só brasileiro. De acordo com o mesmo relatório, em 2024, o mundo somava 14,3 milhões de crianças totalmente sem vacinação.
Outras 20 milhões receberam apenas uma das três doses da vacina DTP. Ou seja, mais de 34 milhões de crianças estão desprotegidas contra doenças sérias.
Enquanto isso, doenças como sarampo e coqueluche estão voltando com força.
Na Europa, os casos de coqueluche triplicaram em um ano, chegando a quase 300 mil.
O sarampo também teve crescimento: mais de 125 mil casos em 2024.
Nos Estados Unidos, o país vive o pior surto de sarampo em 25 anos, com mais de 1.200 casos registrados até agora.
Investir em informação e acesso é urgente
Especialistas da OMS e da Unicef alertam que, embora os números de vacinação estejam começando a melhorar em alguns países, o caminho ainda é longo.
Para que o Brasil e o mundo consigam proteger suas populações infantis, é essencial:
- Ampliar campanhas de conscientização, com informações claras e confiáveis;
- Fortalecer a estrutura dos serviços de saúde;
- Garantir o fornecimento regular de vacinas;
- Lutar contra a desinformação e os discursos antivacina.
As vacinas salvam vidas. E garantir que não haja mais crianças sem vacina é uma responsabilidade de toda a sociedade, desde governos até famílias e profissionais da saúde.
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