Um dos homens que supostamente abriu fogo contra uma celebração judaica de Hanukkah na famosa praia de Bondi, em Sydney, foi acusado de 59 crimes, incluindo assassinato e terrorismo, informou a polícia nesta quarta-feira (17).
Quinze pessoas morreram no ataque que abalou a Austrália e intensificou os temores de crescente antissemitismo e extremismo violento.
Os funerais das vítimas judias do ataque começaram nesta quarta, em meio à indignação sobre como os dois atiradores —um dos quais investigado por ligações com extremistas— tiveram acesso a armas de fogo potentes.
Sajid Akram, de 50 anos, foi morto a tiros pela polícia no local, enquanto seu filho Naveed Akram, de 24 anos, saiu do coma na terça-feira (16) à tarde após também ter sido baleado pela polícia.
A polícia de Nova Gales do Sul disse que o suspeito que sobreviveu foi acusado de 59 crimes, incluindo 15 acusações de assassinato, 40 acusações de ferimento com tentativa de assassinato, além de um crime de terrorismo e outras acusações.
“A polícia alegará no tribunal que o homem se envolveu em conduta que causou morte, ferimentos graves e colocou vidas em risco para promover uma causa religiosa e causar medo na comunidade”, disse a polícia em um comunicado.
“Os primeiros indícios apontam para um ataque terrorista inspirado pelo Estado Islâmico, uma organização terrorista listada na Austrália.”
Naveed Akram, que permanece em um hospital de Sydney sob forte vigilância policial, comparecerá por videoconferência a um tribunal local na segunda-feira de manhã.
Os suspeitos, pai e filho, haviam viajado para o sul das Filipinas, uma região há muito atormentada pela militância islâmica, semanas antes do tiroteio que a polícia australiana disse parecer ter sido inspirado pelo Estado Islâmico.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse em um evento de Hanukkah na Casa Branca, no final de terça, que estava pensando nas vítimas do “horrível ataque terrorista antissemita”.
“Nos unimos ao luto por todos aqueles que foram mortos e estamos orando pela rápida recuperação dos feridos”, disse.
O líder do estado australiano de Nova Gales do Sul disse que convocará o parlamento na próxima semana para aprovar amplas reformas nas leis de armas e protestos, dias após o tiroteio em massa mais mortal do país em três décadas.
Chris Minns, o premier do estado de Nova Gales do Sul, onde ocorreu o ataque, afirmou em uma coletiva de imprensa que o parlamento retornaria em 22 de dezembro para ouvir reformas “urgentes”, incluindo limitar o número de armas de fogo permitidas por uma única pessoa e tornar certos tipos de espingardas mais difíceis de acessar.
O governo estadual também analisará reformas que dificultem a realização de grandes protestos de rua após eventos terroristas, a fim de evitar mais tensões.
“Temos uma tarefa monumental à nossa frente. É uma enorme responsabilidade unir a comunidade. Acho que precisamos de um verão de calma e união, não de divisão”, disse.
Um funeral para o rabino Eli Schlanger, assistente na sinagoga Chabad Bondi e pai de cinco filhos, foi realizado nesta quarta.
Ele era conhecido pelo trabalho para a comunidade judaica de Sydney através do Chabad, uma organização global que promove a identidade e conexão judaica. Schlanger viajava para prisões e se encontrava com pessoas judias que viviam nas comunidades de habitação pública de Sydney, disse o líder judeu Alex Ryvchin.
O primeiro-ministro Anthony Albanese enfrenta críticas de que seu governo de centro-esquerda não fez o suficiente para impedir a propagação do antissemitismo na Austrália durante os dois anos de guerra entre Israel e Gaza.
“Trabalharemos com a comunidade judaica, queremos eliminar e erradicar o antissemitismo de nossa sociedade”, disse Albanese a jornalistas.
O governo e os serviços de inteligência também estão sob pressão para explicar por que Sajid Akram teve permissão para adquirir legalmente os rifles e espingardas de alta potência usados no ataque.
Albanese disse que Ahmed al-Ahmed, 43, o homem que enfrentou um dos atiradores para desarmar seu rifle e sofreu ferimentos a bala, deve passar por cirurgia nesta quarta.
O tio de Al-Ahmed, Mohammed al-Ahmed, na Síria, afirmou que seu sobrinho deixou sua cidade natal na província de Idlib, no noroeste da Síria, há quase 20 anos para procurar trabalho na Austrália.
“Soubemos pelas redes sociais. Liguei para o pai dele e ele me disse que era Ahmed. Ahmed é um herói, estamos orgulhosos dele. A Síria em geral está orgulhosa dele”, disse o tio à Reuters.
A família do policial Jack Hibbert, 22, que foi baleado duas vezes no domingo e estava na força policial há apenas quatro meses, disse em um comunicado que ele perdeu a visão de um olho e enfrentará uma “recuperação longa e desafiadora”.
“Diante de um incidente violento e trágico, ele respondeu com coragem, instinto e altruísmo, continuando a proteger e ajudar os outros enquanto estava ferido, até que fisicamente não conseguiu mais”.
Vinte e três pessoas continuam internadas em vários hospitais de Sydney.

