Uma marca de roupas masculinas na China foi criticada nesta semana por uma etiqueta de lavanderia com seguinte frase: “Por favor, entregue à sua mulher amada —ela sabe de tudo”.
A etiqueta, sem instruções de lavagem, vinha apenas com dois QR codes direcionando às redes sociais da fabricante, a Gu Zhuo Kang Zheng Garment Company, do leste da China. O produto, um casaco da linha Labour Union, viralizou nas redes sociais após um cliente postar a foto do rótulo.
Diante da repercussão, a empresa divulgou um pedido de desculpas. Uma porta-voz afirmou que o texto foi um “erro de expressão” e que não havia “intenção de insultar as mulheres”. Segundo a empresa, o objetivo era alertar que “muitos homens não sabem lavar roupas feitas com materiais especiais”.
A explicação não convenceu. Usuários no Weibo criticaram o tom “patriarcal” e convocaram um boicote à marca.
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- “Como assim entregar para a mulher? Aprenda você mesmo a lavar,” escreveu uma usuária cuja postagem recebeu mais de 40 mil curtidas.
O caso reabriu o debate sobre estereótipos de gênero e a naturalização da divisão desigual das tarefas domésticas, um tema recorrente no marketing chinês.
Por que importa: a controvérsia evoca casos recentes semelhantes na China, como a campanha do detergente Blue Moon no Dia das Mães do ano passado, que viralizou com slogans “facilite a lavagem para mamãe”. Cartazes da empresa foram vandalizados e ela foi alvo de uma campanha no Weibo, rede social chinesa. A marca retirou os anúncios do ar e criou um concurso cultural para achar um novo slogan.
Outro exemplo aconteceu com a Ulike, que, em 2023, divulgou um anúncio que fazia trocadilhos de conotação sexual para um depilador feminino. A peça foi alvo de investigação oficial por discriminação publicitária.
Pare para ver
“As mulheres sustentam metade do céu e dão cara nova ao país,” diz o pôster comunista de 1975. A frase (em especial a primeira parte, originalmente 妇女能顶半边天 em chinês) é um famoso slogan comunista frequentemente repetido por Mao Tsé-tung ao longo da Revolução Cultural como forma de arregimentar grupos feministas para as fileiras do Partido.
O que também importa
★ Mais de 1,9 mil voos entre China e Japão foram cancelados em dezembro, cerca de 40% do total previsto. O movimento acontece em meio ao agravamento da disputa diplomática entre os países. Em novembro, a premiê Sanae Takaichi afirmar que o Japão poderia agir militarmente em caso de conflito no estreito de Taiwan. Pequim reagiu com um alerta para que cidadãos evitassem viagens ao Japão, e companhias aéreas chinesas passaram a reembolsar bilhetes. Eventos culturais japoneses foram suspensos na China, e o turismo chinês ao Japão caiu 35% desde outubro.
★ O ministro das Finanças da China, Lan Foan, defendeu uma política fiscal mais ativa para impulsionar a demanda interna, fortalecer a segurança industrial e avançar na autossuficiência tecnológica, ao mesmo tempo em que busca conter riscos de endividamento. Em artigo no Diário do Povo, jornal oficial do Partido, Lan pediu apoio ao consumo, incentivo à inovação e vigilância rigorosa sobre dívidas locais. As declarações antecedem a conferência econômica central, que definirá as diretrizes de 2026. .
★ O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que a China representa “ameaças à segurança nacional” ao mesmo em que defendeu o reforço dos laços econômicos com Pequim. Em discurso a empresários em Londres na segunda (1º), Starmer disse buscar uma relação “séria”, distante tanto da “era dourada” quanto do “congelamento” diplomático dos últimos anos. Ele criticou a falta de engajamento dos conservadores e anunciou planos de visitar a China em 2026. O premiê ressaltou que a segurança do Reino Unido é “inegociável”, mas que setores como finanças, indústria criativa e farmacêutica devem ampliar suas exportações ao mercado chinês.
Fique de olho
O bilionário e astronauta privado indicado pelo presidente Donald Trump para liderar a NASA, Jared Isaacman, deve dizer ao Senado americano na audiência de confirmação que pretende expandir investimentos em propulsão nuclear e esforços comerciais para garantir que os EUA retornem à Lua antes da China.
O depoimento foi obtido com exclusividade pela Reuters. A agência de notícias informou que durante a audiência, Isaacman dirá que “a América retornará à Lua antes do nosso grande rival, e estabeleceremos uma presença duradoura para compreender e realizar o valor científico, econômico e de segurança nacional na superfície lunar”.
O indicado acrescentará ainda que os EUA vão “preparar o terreno para futuras missões a Marte e além” através da “expansão de investimentos em programas de propulsão nuclear e energia de superfície”.
Por que importa: a postura de Isaacman formaliza a nova corrida espacial entre Estados Unidos e China como prioridade estratégica da administração Trump.
Ao enfatizar propulsão nuclear e parcerias comerciais, a gestão sinaliza uma aposta no setor privado para competir com os planos chineses de estabelecer uma base lunar permanente até 2035, transformando a Lua em novo teatro da disputa geopolítica sino-americana, à exemplo do que aconteceu com a União Soviética na década de 1960.
Para ir a fundo
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- O Cadernos de Estudos Africanos está com chamada aberta para o dossiê “África e China: Uma relação do Sul Global num mundo em transição”. A publicação busca artigos sobre a relação África-China, desde a solidariedade anti-imperialista até as parcerias contemporâneas, incluindo iniciativas multilaterais. Resumos devem ser enviados até 15 de dezembro de 2025 para liyichao@zjnu.edu.cn.
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- Terminou na semana passada a temporada de gravações do Café Filosófico CPFL deste ano. Abordando vários temas relativos à China, o acervo completo do programa está disponível no YouTube e a companhia chinesa de energia está publicando cortes dos episódios. Assista aqui.
Fonte Matéria : China, terra do meio desta terça-feira (2).

