Conviver com um pet é um dos grandes prazeres da vida, mas, assim como em qualquer relacionamento, existem momentos desafiadores. Cães e gatos, por exemplo, possuem comportamentos únicos, e entender o que se passa na mente deles pode ser a chave para fortalecer essa relação. Apesar de serem os pets mais comuns, há muitas dúvidas sobre comportamentos. Muitos tutores já se pegaram pensando: “Por que meu cão late tanto quando saio de casa?” ou “Por que meu gato parece evitar interações?”. Essas questões não são raras, e compreender o comportamento do seu pet pode transformar a convivência diária.
Entender os sinais que seu pet transmite fortalece a relação e ajuda a identificar problemas comportamentais com mais rapidez. Foto: stock.adobe.com
A comunicação entre pets e pessoas é muito baseada em linguagem corporal e comportamental com ações repetitivas. Enquanto nós usamos palavras, eles nos mostram o que sentem por meio de gestos, posturas e até sons. Saber identificar e interpretar esses sinais pode ajudar a prevenir comportamentos indesejados e, mais importante, a promover uma convivência harmoniosa e qualidade de vida para o animalzinho.
Ansiedade de separação: uma questão comum
Um dos problemas mais recorrentes, especialmente entre os cães, é a ansiedade de separação. Quando um tutor sai de casa, é comum que o pet fique ansioso, o que pode resultar em comportamentos destrutivos, como arranhar portas ou destruir objetos, ou ainda em latidos excessivos. Esses comportamentos são um reflexo da incapacidade do pet de lidar com a ausência do tutor, e muitas vezes indicam que ele desenvolveu uma dependência emocional muito forte.
Débora Martins é doutora em ciências veterinárias e já atua há mais de 10 anos com clínica veterinária de cães e gatos. Ela explica que a ansiedade por separação acomete as espécies de formas diferentes. “Gatos não lidam bem com mudanças de rotina, como quando há mudança dos locais de alimentação ou quando um dos tutores viaja. A minha gata, por exemplo, fazia cocô na minha cama para expressar essa ansiedade. Já para os cães fica mais nítido, pois geralmente há comportamento obsessivo de destruição e latidos”
Existem estratégias que podem ajudar a minimizar essa ansiedade, como o uso de brinquedos que desafiem mentalmente o pet ou a prática de dessensibilização, que consiste em treinar o animal para aceitar a ausência do tutor de forma gradativa. Em casos mais graves, é recomendável buscar a orientação de um veterinário especializado em comportamento ou de um treinador profissional.
Daniel Gentil é designer gráfico e divide o apartamento com a esposa e dois cães: Alecrim e Pudim, de 6 e 3 anos. Ambos foram adestrados, mas a maior razão para o casal ter feito essa opção foram os comportamentos do Pudim que sinalizaram ansiedade de separação. “Ele foi adotado durante a pandemia, um momento em que estávamos em casa todos os dias. Quando começamos a voltar à normalidade e passamos a sair, chegávamos em casa e nos deparávamos com uma bagunça enorme pelos comportamentos destrutivos que ele passou a apresentar”. Daniel explica que mesmo na companhia do Alecrim, Pudim ficava muito agitado e nervoso, algo que foi solucionado com o adestramento. “Nós optamos por um educador que usa métodos mais afetuosos, pois não queríamos nossos cães com enforcadores, por exemplo. Hoje, eles são serenos e fazem bagunça dentro da normalidade do comportamento deles”.
O segredo para pets equilibrados pode ser a socialização
Outro fator essencial para um comportamento saudável é a socialização precoce. Expor o pet a diferentes pessoas, ambientes e outros animais, desde filhote, ajuda a garantir que ele se sinta confortável e seguro em diversas situações. Isso é especialmente importante para evitar comportamentos agressivos ou medrosos no futuro. Cães que não foram bem socializados podem se tornar desconfiados ou reativos em situações sociais, o que pode ser evitado com uma introdução adequada ao mundo exterior.
O Pudim foi adotado aos 3 meses de vida e, hoje, ele e Alecrim são amigos inseparáveis. “Eles fazem tudo juntos: comem, passeiam e até dormem. Eles têm um ótimo relacionamento e se dão muito bem”, conta o designer gráfico.
No caso dos gatos, a socialização também é fundamental, embora funcione de forma diferente. Gatos são mais territoriais e preferem interações controladas. Permitir que eles explorem novos espaços no seu ritmo e conheçam novas pessoas com calma pode fazer toda a diferença no comportamento ao longo da vida.
Compreendendo os sinais do seu pet
Saber interpretar o comportamento de um pet vai além de resolver problemas pontuais. Comportamentos como agressividade, medo excessivo ou compulsões – como lamber repetidamente uma parte do corpo – podem ser indicativos de problemas mais sérios e precisam ser tratados com atenção. Muitas vezes, esses sinais estão ligados a experiências passadas, e resolver essas questões pode demandar paciência e, em alguns casos, a ajuda de um especialista. “Tudo aquilo que foge do comum, dentro da sua vivência com o seu pet, serve de alerta”, aponta Débora.
Ao longo de sua carreira, a doutora em ciências veterinárias atendeu animais que não conseguiam aceitar carinho e, em casos mais graves, que chegaram a se mutilar tentando abrir a porta após saída dos tutores. “Em um dos casos mais assustadores que atendi, um cãozinho ficou tão ansioso que comeu o próprio rabo, uma situação extrema e traumática que, obviamente, deve ser evitada. Para isso, é preciso conhecer o seu animal e o seu comportamento usual.”
Observar o comportamento do pet e identificar padrões é o primeiro passo. Um gato que evita interações pode estar estressado por alguma mudança no ambiente. Já um cachorro que rosna ou fica agitado perto de pessoas estranhas pode estar reagindo a uma situação que ele interpreta como ameaça. Ao compreender a origem desses comportamentos, o tutor pode tomar as medidas necessárias para oferecer um ambiente mais seguro e confortável.
Buscar ajuda profissional
Para tutores que enfrentam problemas de comportamento mais complexos, como agressividade extrema ou compulsões, é fundamental buscar a orientação de profissionais. Veterinários comportamentais e treinadores de pets possuem o conhecimento necessário para avaliar e tratar esses problemas, desenvolvendo planos personalizados que podem incluir mudanças de rotina, treinamento e até o uso de medicação, quando necessário.
É importante ressaltar que não há uma solução única para todos os casos. Cada pet tem uma personalidade e uma história de vida que influencia seu comportamento. O que funciona para um pode não ser eficaz para outro, e a paciência é essencial nesse processo de mudança.
Dica nunca é demais
Conheça seu animal: pesquise sobre os hábitos da espécie e da raça e crie conexão com o seu pet. Apenas conhecendo o seu comportamento será possível identificar sinais que fogem da normalidade. Avalie a rotina alimentar, comportamentos destrutivos, se o animal vocaliza muito além do normal.
Bichos que sempre foram sociáveis e agora estão escondidos pelos cantos devem ser acompanhados de perto: isso pode ser um sinal de alerta.
Animais entediados, que dormem muito e não têm interesse pelo ambiente ao redor também devem ser observados. Claro que devem ser levados em conta os comportamentos típicos de cada raça, mas na dúvida, converse com um profissional.
Gastar energia física e mental do seu pet sempre deixará ele mais confortável e feliz!
Evite rituais para sair de casa, como despedidas longas ou mesmo transparecer a própria ansiedade pessoal: isso pode provocar ainda mais desconforto ao seu pet.
O valor da paciência e da consistência
Lidar com o comportamento de um pet pode ser desafiador, mas o esforço vale a pena. Mudanças não acontecem da noite para o dia, e é fundamental que o tutor seja consistente nas suas ações. Recompensar comportamentos desejados, reforçar positivamente as atitudes corretas e evitar reações exageradas aos comportamentos indesejados são as chaves para uma boa convivência.
“Os animais lidam bem com a previsibilidade. O adestramento, além de permitir que o tutor desenvolva uma conexão muito mais profunda com o pet, dá ao animal a segurança de que a sua matilha está em boas mãos”.
Ao longo do tempo, o vínculo entre tutor e pet se fortalece. Esse relacionamento é construído com base na compreensão mútua, e entender o que o comportamento do seu pet pode te dizer é um passo fundamental para criar uma rotina harmoniosa e feliz. Afinal, cada pet tem uma personalidade única, e é essa individualidade que faz com que a convivência seja tão especial.